No setor aéreo, hidrogênio verde é aposta para zerar emissões

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O hidrogênio verde está na rota de transformação de uma das atividades de maior desafio dentro dos programas de descarbonização – o setor aéreo. Enquanto a economia mundial se esforça para reduzir as fontes de poluição atmosférica, a área de aviação registrou, nos últimos anos, alta nas emissões de gases de efeito estufa – um aumento de 32% entre 2013 e 2018, período anterior ao início da pandemia.

O projeto inovador ProQR (Promovendo Combustíveis Alternativos sem Impactos Climáticos,) aposta no hidrogênio verde como alternativa de produção de um tipo de querosene para aviação sustentável. No Brasil, a iniciativa é levada adiante pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), a agência alemã de cooperação internacional, e tem como parceiro brasileiro o Ministério de Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI).

“A ideia do projeto não é perpetuar a indústria tradicional, mas sim ter uma opção para descarbonizar alguns modais, que estão distantes de soluções de propulsão elétrica em médio prazo, como parece ser o caso da aviação”, explica Marcos Costa, atual coordenador do ProQR.

A proposta é inovadora, já que trabalha processos industriais tradicionais existentes em refinarias para a produção de um tipo de combustível sustentável. Ele seria feito a partir de um gás de síntese, que é uma combinação de hidrogênio e carbono. A mistura de CO2 e H2 passaria por um reator de Fischer-Tropsch, onde ocorre a combinação em cadeias de hidrocarbonetos e a geração de petróleo sintético. “Esse petróleo é fracionado em processo igual ao que existe nas refinarias para a produção do combustível tradicional usado na aviação”, detalha Costa. E para ser ‘verde’, o hidrogênio necessário para o gás de síntese deve ser produzido a partir de uma fonte de energia renovável e o Brasil leva vantagem nisso, já que possui muitas alternativas como a solar, eólica, biomassa, entre outras.

Um desafio do projeto, desenvolvido no âmbito da cooperação entre Brasil e Alemanha, é planejar alternativas para levar a produção do combustível ‘verde’ para um local próximo ao de uso, no caso do setor aéreo, o aeroporto. Várias articulações têm sido feitas para reunir parceiros em torno da ideia e viabilizar uma planta-piloto no Brasil. Dentre os parceiros da rede ProQR estão universidades, institutos federais e entidades como o Senai (Serviço Nacional de Aprendizado Industrial), além da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Renováveis para Aviação (RBQAV). Antes mesmo de as primeiras companhias aéreas anunciarem o compromisso de reduzir suas emissões por meio do hidrogênio verde, o ProQR, criado em 2017, já planejava criar um modelo de referência que pudesse ser replicado e que gerasse conhecimento e informações de relevância internacional.

Esse movimento tem ganhado força nos últimos anos e pedido investimentos. Em junho deste ano, a europeia AirBus afirmou que o hidrogênio verde deve ter um papel fundamental na indústria, mas que o ambiente de negócios ainda precisa ser criado para atender à demanda futura do setor. A empresa planeja contar com a fonte limpa para cumprir o compromisso assumido de zerar suas emissões até 2035. Em outra frente, a startup americana ZeroAvia tem mobilizado investidores privados para desenvolver uma aeronave equipada com uma célula de combustível movida a hidrogênio. O plano é oferecer vôos comerciais até 2023 com 20 passageiros e, em 2026, aumentar a capacidade para 80 lugares com percursos mais longos.

O Brasil, além de seu grande potencial para produzir hidrogênio verde, é signatário do Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional (CORSIA), que impõe medidas para redução de emissões do setor da aviação a partir de 2027. Isso significa que o investimento em opções mais limpas, como querosene de aviação sustentável a partir do hidrogênio verde, é estratégico. A expectativa é que o Brasil, com o seu enorme potencial e diversidade, tenha lugar de destaque nesse novo mercado de energia limpa.

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