Biohitano: conheça biocombustível mais energético pesquisado no Brasil

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Proposta é enriquecer biogás com hidrogênio verde, obtido a partir de resíduos

Globo Rural visitou as instalações do laboratório de genômica e bioenergia na Unicamp (LGE), em Campinas (SP), para conhecer de perto pesquisas que trabalham no aprimoramento do biohitano, um novíssimo biocombustível, criado pela universidade para ser mais energético do que seus pares atuais. O resultado foi alcançado a partir do enriquecimento do biogás com hidrogênio.

“O elemento mais abundante no universo (hidrogênio) pode desempenhar papel crucial na sonhada transição para energia verde”, celebram os pesquisadores do LGE.

O projeto está em andamento desde 2022, no LGE. E foi o próprio professor e coordenador do LGE, Gonçalo Pereira, uma das maiores autoridades em bioenergia do país, que batizou o composto: nascia ali, o “biohitano”.

Gustavo Mockaitis, professor e coordenador do estudo, explica: “Trata-se de uma pesquisa inédita, voltada para a criação de biogás enriquecido com hidrogênio, que, em tese, confere ao biocombustível final mais rendimento energético. O diferencial é que o processo permite que se obtenha hidrogênio verde pela via biológica (uma grande conquista frente aos desafios da descarbonização global)”.

Segundo o pesquisador, entre as vantagens do uso de biohitano estão sua origem renovável, que no momento, desenvolvido a partir de resíduos da produção sucroalcooleira, como vinhaça e torta de filtro; além da melhoria na combustão de motores, capazes de reduzir as emissões de dióxido de carbono e óxidos nitrosos (Nox), em função da presença do hidrogênio, combustível limpo.

Gustavo Mockaitis chama a atenção para o ineditismo da pesquisa — Foto: Maria Emília Zampieri/Globo Rural
Gustavo Mockaitis chama a atenção para o ineditismo da pesquisa — Foto: Maria Emília Zampieri/Globo Rural

O professor explica que este primeiro ano de pesquisa foi destinado a aprimorar forma de obtenção do hidrogênio. Em vez de obtê-lo a partir da reforma do gás natural, para ser misturado ao metano, ele é obtido a partir de microorganismos.

Até o momento, a equipe já conseguiu selecionar tratamentos para os microrganismos, em pequenos reatores, para gerarem o hidrogênio, primeira etapa do processo que será desenvolvido em mais quatro anos até gerar uma planta piloto.

São diversas etapas cujo final já se conhece: a criação do biohitano.

E neste ponto, Mockaitis chama a atenção para o ineditismo da pesquisa, que se firma com a produção de um hidrogênio realmente verde, produzido a partir da ação dos microrganismos.

No caso do biohitano, um dos objetivos do projeto é entender o quanto será agregado de hidrogênio, já que mesmo em pequenos percentuais o poder energético do biocombustível aumenta muito.

Planta piloto

Segundo Mockaitis, os primeiros testes, com frascos de 300 ml, já foram concluídos na planta piloto e neste ano o escalonamento passará para 4 litros. O objetivo final é ter planta piloto, daqui a dois anos, com equipamentos para 150 litros. “A ideia é até lá dominar o processo para poder transferir a tecnologia para empresas”, diz.

Na fase de testes em frascos, explica Mockaitis, já foi possível otimizar a produção de hidrogênio pelos microrganismos, com pré-tratamentos e escolhas de condições, chegando a concentrações entre 55% e 63% do elemento, em tempos muito curtos. “São resultados muito satisfatórios, porque na literatura o máximo que se alcança é, em média, entre 40% e 50%”, completa.

A meta agora, depois dos resultados, é otimizar a geração de H2 e metano para levar a operação para reatores que operam em fluxo contínuo, porque os testes foram feitos em bateladas. Isso para reproduzir a experiência de uma indústria e tornar o processo viável no futuro.

Com hidrogênio separado e nas concentrações hoje obtidas, segundo o pesquisador, a sua dosagem deve fazer com que o percentual enriquecido no biohitano chegue a uma média de 10% a 15%.

De acordo com ele, a expectativa é que o poder calorífico do biohitano, em comparação com o biometano, fique entre 20% e 30% maior. “Mas pode ser até mais, a depender da quantidade de hidrogênio que será misturado”, diz.

Fomento à pesquisa

O projeto na Unicamp foi viabilizado com recursos de P&D da Shell, que precisa atender cláusula da ANP de investir em pesquisa no Brasil. No caso do biohitano, foram R$ 6,1 milhões no LGE.

Fonte: Globo Rural

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